Herbicidas Inibidores da ACCase



No texto de hoje vamos falar sobre os herbicidas inibidores da enzima ACCase, os graminicidas.

Herbicidas deste mecanismo de ação atuam dentro do cloroplasto, mais especificamente inibindo a enzima Acetil-Co A carboxilase.

São utilizados em pós-emergência das plantas daninhas, sendo seletivos para as culturas dicotiledôneas (folhas largas).

Os herbicidas pertencentes a este mecanismo de ação afetam a síntese de lipídios das plantas e começaram a ser comercializados no mundo no final da década de 1970.

Os lipídios são muito importantes para as plantas, contribuindo com 5 a 10% da massa seca das células vegetais. São também os principais constituintes  das membranas das células e de suas organelas.

A inibição da síntese de lipídeos impossibilita as membranas de se formarem e de se manterem.

Mundialmente os herbicidas inibidores da ACCase pertencem a três grupos químicos: os ariloxifenoxipropanoatos (FOPs), as ciclohexanodionas (DIMs) e as fenilpirazolinas (PPZ).

Fonte: HRAC (2021)

A Tabela abaixo mostra exemplos de herbicidas inibidores da ACCase e culturas em que são registrados.

Lembrando que a seletividade depende da dose do herbicida, da modalidade de aplicação (PPI, pré ou pós-emergência), entre outros fatores. 

Grupo químicoIngrediente ativoCulturas
Ariloxifenoxipropanoatos (FOPs)quizalofopalgodão, amendoim, batata, café, cebola, citros, feijão, soja, tomate
propaquizafopalgodão, soja
fluazifopalface, algodão, batata, brócolis, cana-de-açúcar (maturador), canola, cebola, cenoura, couve-flor, feijão, girassol, mandioca, repolho, soja, tomate
haloxyfopalgodão, feijão, soja
clodinafop trigo
cyalofoparroz/arroz de sequeiro, arroz irrigado
fenoxapropalface, arroz/arroz de sequeiro, batata, cebola, cenoura, ervilha, feijão, melão, soja, tomate
Ciclohexanodionas (DIMs)profoxydimarroz/arroz de sequeiro, arroz irrigado
clethodimabacaxi, algodão, alho, batata, batata-doce, batata-yacon, berinjela, café, cará, cebola, cenoura, feijão, fumo, gengibre, girassol, inhame, jiló, maçã, mandioca, mandioquinha salsa, melancia, milho, pimenta, pimentão, quiabo, soja, tomate, trigo, uva
sethoxydimalgodão, feijão, fumo, gladíolo, milho resistente ao sethoxydim, soja
tepraloxydimalgodão, feijão, soja
Fenilpirazolinonas (PPZ)pinoxaden

Sintomas característicos dos Inibidores da ACCase

São mais visíveis nas regiões meristemáticas, onde ocorre a desintegração dos meristemas, que sofrem descoloração, ficam marrons e desintegram-se.
 
Após a aplicação e absorção do produto, ocorre a paralisação do crescimento, mas os sintomas demoram a aparecer.

Você vai observar clorose nas folhas recém-formadas, amarelecimento e as folhas mais desenvolvidas podem adquirir coloração arroxeada ou avermelhada.

Doses subletais: estrias cloróticas ou esbranquiçadas nas folhas que variam dependendo da dose e do estádio das plantas.

A tabela abaixo trás alguns exemplos de produtos comerciais nesse mecanismo de ação. 


Casos de resistência no Brasil

No mundo estão registrados 49 espécies de plantas daninhas resistentes aos inibidores da ACCase.

No Brasil, estão registrados nove casos de plantas daninhas resistentes aos inibidores da ACCase.

Urochloa plantaginea (capim-marmelada)

Este foi o primeiro registro de resistência a graminicidas no Brasil, ocorreu em 1997, no Paraná, em lavouras de soja. O registro foi de capim-marmelada resistente a 8 graminicidas: butroxydim, diclofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop, quizalofop e sethoxydim.

Digitaria ciliaris (capim-colchão)

O capim-colchão resistente a graminicidas foi registrado em 2002, no Paraná, em lavouras de soja. O registro foi de capim-colchão resistente a 6 graminicidas: cyhalofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop e sethoxydim.

Eleusine indica (capim-pé-de-galinha)

O capim-pé-de-galinha resistente a graminicidas foi registrado em 2003, em lavouras de soja. O registro foi de capim-pé-de-galinha resistente a 3 graminicidas:
cyhalofop, fenoxaprop e sethoxydim.

Em 2017, no Mato Grosso, em lavouras de feijão, milho, algodão e soja, também foi identificado capim-pé-de-galinha resistente a graminicidas.

Porém, este segundo caso é relatado com resistência múltipla, ou seja, a dois mecanismos de ação.

O registro foi de capim-pé-de-galinha resistente a 2 graminicidas (fenoxaprop e haloxyfop) e ao glyphosate (EPSPs).

Lolium perenne ssp. multiflorum (azevém)

O azevém resistente a graminicidas foi registrado em 2010, no Rio Grande do Sul, em lavouras de soja, trigo e milho.

O registro é de resistência múltipla do azevém ao clethodim (ACCase) e ao glyphosate (EPSPs).

Em 2016, em lavouras de trigo, também foi identificado azevém com resistência múltipla a clethodim (ACCase) e iodosulfuron (ALS).

Avena fatua (aveia-brava)

A aveia-brava resistente a graminicidas foi registrada em 2010, no Paraná. O registro foi de aveia-brava resistente a clodinafop.

Echinochloa crus-galli var. crus-galli (capim-arroz)

O capim-arroz resistente a graminicidas foi relatado em 2015, em lavouras de arroz, em Santa Catarina. O relato foi de resistência múltipla: cyhalofop (ACCase), penoxsulam (ALS) e quinclorac (Biossíntese de celulose – mecanismo de ação em monocotiledôneas).

Em 2020, foi relatado a resistência ao herbicida glyphosate.

Digitaria insularis (capim-amargoso)

O capim-amargoso resistente a graminicidas foi relatado em 2016, em lavouras de soja. O registro foi de capim-amargoso resistente a 2 graminicidas: fenoxaprop e haloxyfop.

Em 2020, foi relatado no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, a resistência múltipla: fenoxaprop, haloxyfop e glyphosate. 

O vídeo abaixo é uma aula sobre este mecanismo de ação.


Conclusão

No texto de hoje você aprendeu que os graminicidas são herbicidas sistêmicos utilizados em pós-emergência das plantas daninhas.

Vimos que controlam gramíneas anuais e perenes, são divididos em 3 grupos químicos e que precisam de adição de adjuvantes.

No Brasil, temos 9 plantas daninhas resistentes aos graminicidas. 

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre este mecanismo de ação? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

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